sábado, 5 de novembro de 2011
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Não Alimente os animais (fase 2)
E não faze nenhum sentido que isso aconteça em outro lugar que não a rua, a calçada, o poste. Isso pq é nesse lugar que esse corpo pe permitido a viver.
Abaixo uma versão preliminar da intervenção, que foi apresentada dentro da programação do evento "20minutos.MOV", no cafofo couve-flor (espaço de trabalho da couve-flor minicomunidade artística mundial), em novembro de 2010.
Nela Princesa rasteja pela rua durante a noite e adentra o espaço o cafofo, com um animal que procura pela jaula. Linda, mas enjaulada.
Depois dese dia entendi duas importantes características do lugar-tempo em que a ação pode-deve acontecer:
1. Entendi que o memento não á a noite. A fricção e a ambiguide estão extamente no fato desse corpo ocuparo o espaço público durante os momentos em que a princípio não são permitidos: o dia. É importante retirar esse corpo da condição de noturno e dar a ele o poder de viver o dia.
2. Não se trata de qualquer rua. Existe uma potência na ocupação de ruas e calçadas onde durante a noite os corpos travestis estão a venda.
Segue aí uma edição da versão apresentada em novembro de 2010.
Câmera e edição: Alessandra Haro
Não alimente os animais (fase 1)
As fotos acabaram sendo ponto de partida para a elaboração da ação performática, que teve sua estréia oficial na bienal de Par em Par (Fortaleza - outubro de 2010).
As fotos que seguem são o material bruto do ensaio produzido em agosto de 2010. É preciso frizar que se trata de material bruto para o fotógrafo não me comer o fígado. (Não é Dominoni...)
Antecedentes performáticos de Princesa Ricardo
A trajetória de trabalho de Princesa Ricardo (sim, agora me chamo oficialmente assim) é marcada de diversas formas pela discussão de diversidade sexual.
Em 2003, nas performances Desenhos de uns sexos (uma parceria com o artista curitibano Leo Gomes) e Desenhando uns sexos em versão solo pude explorar minhas primeiras inquietações com relação às pseudo obrigações do “ser homem socialmente”.
Com as performances Família dos Batráquios (de 4 horas de duração); Homem branco, ocidental, classe média; e Pelo a menos no país das maravilhas, todas de 2004, dei continuidade à pesquisa que relaciona dança e sexualidade, incluindo minha história pessoal como uma das ferramentas para acessar alguma sensibilidade coletiva.
Pelo a menos no país das maravilhas (obra inteira):
Pelo a menos no país das maravilhas - Ricardo Marinelli from ricardo marinelli on Vimeo.
Em 2005, na performance Me apresenta pro He-man, realizei uma primeira aproximação com a construção das orientações sexuais na infância (a performance apresentava uma espécie de programa de auditório pretensamente para crianças e apresentado por um Gogo-boy de sunga e coturno que lembra os trejeitos e a afetação da apresentadora Xuxa Meneghel em seus primeiros programas na década de 80).
Depois de algum tempo voltado para outras questões, volto a refletir sobre o universo da sexualidade no solo Quase nu, de abril de 2008, ainda que este não seja o centro do foco da pesquisa e da cena.
Quase nu (clipe da primeira versão da obra, de 2008)
Neste projeto quero aprofundar a investigação tendo como foco o corpo transgressor das travestis e das drag queens, atacando esses corpos de modo a tornar visível sua potencialidade habitual... elas são simples e complexas como você.
A origem do amor.
Uma referência que há muito me persegue e que neste projeto ganha uma força irrefutável é o filme "Hedwig and the Angry Inch", brilhantemente dirigido e atuado por John Cameron Mitchell (sim, ele dirige e atua no principal papel).
O título do filme foi absurdamente traduzido para o português como "Hedwig: rock, amor e traição", uma leitura que para mim é reducionista demais perto da complexidade e potência que o filme apresenta em diversos de seus elementos, complexidade que também está no título em inglês, que faz referência ao micro pênis que sobra da cirurgia mal sucedida de trangenitalização a que a personagem principal é submetida.
Figurinos e maquiagem impecáveis, atuações na medida certa, um roteiro contundente e uma trilha sonora de chorar. (literalmente). O melhor musical que ví nos últimos anos.
O trailer já é bastante revelador de tudo isso. Vê aí o que você acha.
Muitas poderiam ser as relações que poderia indicar entre Hedwig e Princesa, mas as principais:
1. um desejo de existência rock'n'roll;
2. a ambiguidade entre bizarrices mais estranhas e simplicidades mais românticas e cafonas convivendo na mesma pessoa;
3. a confusão que não se resolve entre permanecer existindo como Hansel (o menino que cresceu na alemanha oriental) e Hedwig (a mulher transexual que fugiu para a America).
Mas o que mais me move, sem dúvida, é o que entendo como argumento principal.
Tudo parte de uma apropriação muito bem feita de diversas perspectivas da mitologia grega a respeito da origem do amor, articulada com a metáfora da divisão entre as alemanhas (no fim das contas a divisão do mundo naquele momento) como a condição de existência de Hedwig. Tanto nos mitos quanto na metáfora o corpo é em sí paradoxo, ambiguidade,completude e falta.
O mito vira uma bela música noi filme, ilustrada de forma também muito feliz. (Sim, eu sou muito fã!)
Aqui o clip de "The origin of love", que integra o filme. (vejam, vejam, vejam!!!!!)
E aqui a letra da Música. (quem não achar incrível ne fale mais comigo).
A Origem do Amor
Quando a Terra ainda era reta
E nuvens feitas de fogo
E montanhas iam até o céu
Às vezes além
Povos vagavam a Terra como grandes barris rolantes
Eles tinham dois pares de braços
Eles tinham dois pares de pernas
Eles tinham dois rostos saindo de uma cabeça gigante
Então eles podiam ver tudo envolta deles
Como falavam; enquanto liam
E eles não sabiam nada de amor
Isso foi antes da origem do amor
A Origem do Amor
E eram três sexos então,
Um que parecia como dois homens
Grudados pelas costas
Chamados de filhos do sol
E em similar forma e cinturão
Eram os filhos da Terra
Eles pareciam duas garotas enroladas em uma
E os filhos da lua
Eram como um garfo impulsionado em uma colher
Eles eram parte Sol, parte Terra, parte filha, parte filho
A Origem do Amor
Agora os deus ficaram um pouco assustados
Com nossa força e intimidação
E Thor disse "Eu vou matar todos com meu marteloComo matei os gigantes"
E Zeus disse "Não
É melhor deixar-me usar meus raios como tesouras
Como cortei as pernas das baleias
E dinossauros em lagartos"
Então ele pegou alguns parafusos
E deixou escapar uma risada
Disse "Eu os dividirei bem ao meio
Vou cortá-los bem na metade"
E nuvens de tempestade se juntaram acima
Em grandes bolas de fogo.
E o fogo caiu do céu em bolas
Como lâminas lustradas de uma faca
E rasgaram direto pela carne
Dos filhos do Sol e da Luae da Terra
E algum deus hindu costurou o ferimento
Em um buraco
Colocou isso em nossas barrigas
Para lembrar do preço que pagamos
E Osiris e os deuses do Nilo
Fizeram uma grande tempestade
Para soprar um furação
Para nos separarSob a chuva
E um mar revoltoPara nos levar para longe
E se não nos comportamos
Vão nos cortar de novo
E iremos andar sobre um pé
E olhar por um olho
A última vez em que lhe vi
Nós tinhamos acabado de nos separar
Você estava olhando para mim
E eu para vocêVocê tinha um jeito tão familiar
Mas eu não pude reconhecerPorque tinha sangue em seu rosto
E eu nos meus olhosMas poderia jurar pela sua expressão
Que a dor em sua alma
Era a mesma que a da minha
É a dor
Que corta uma linha pelo coração
Nós chamamos de amor
Então nos envolvemos nos braços um do outro
Tentando juntar nossas almas de volta
Nós estávamos fazendo amor
Fazendo amor
Foi a fria e sombria noite há muito tempo atrás
Quando pela força da mão de Jupiter (zeus)
Essa foi a triste história de como viramos
Solitárias criaturas bípedes
É a história
A Origem do Amor
Essa é a origem do amor